domingo, 20 de março de 2011

Sobre não sei o que


Em sala de aula uma frase dominou os pensamentos. “Sobre não sei o que”. Já nada mais se ouvia, alem desta que ecoavam entre idéias que eclodiam em cadeia. Não se sabia precisar se era algo dito ou algo propriamente pensado, mas muito provavelmente não era nada original. Então por que o interesse? Difícil dizer, mas aparentemente é porque a ignorância encontrou uma nova fundamentação, um novo atrativo: A sinceridade.
Lembram daquela história de que se contar a verdade para os pais não há punição? Pois é, hoje é geral. Quem não se lembra da celebre frase do deputado federal Francisco “O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto”. Por verdades como essas o Tiririca foi um dos deputados mais votados de todos os tempos.
Outra verdade que comoveu a população brasileira foi quando Ronaldo disse sobre suas cirurgias e dores quando questionado sobre a sua aparente falta de comprometimento. Esta resposta foi tão verdadeira que driblou o verdadeiro intuito do questionamento que se referia ao seu mau desempenho nos campos. Ou seja, as verdades têm valores diferentes. Quanto mais verdadeira uma verdade, mais aceitável ela se torna. Então a pergunta é o quanto de mentira tem nessa dedução? “Muito-muito, ou mais ou menos?
Na verdade estou escrevendo “sobre não sei o que”, mas minha sinceridade espero que não invalide o raciocínio ainda não concluído. Mas cá entre nós, ainda acho essa temática muito interessante e inexplorada. Espero ter tempo e paciência para resgatá-la e pensar nessa relação com o comportamento de parte dos alunos que tenho neste ano. Quem sabe este blog não se torne algo mais voltado à educação.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tragédia no Japão.


Acordei na sexta-feira (11/03/11) com o noticiário de que o Japão havia sofrido o maior terremoto de sua história, com as imagens das ondas gigantes e com o risco de um acidente nuclear. Alem disso, com um amargor no peito por um camarada que cresceu comigo e meus primos estar sendo enterrado naquela manha. Ele havia sido diagnosticado com câncer alguns poucos meses antes. Enfim, um daqueles dias terríveis com sabor de fel.
No decorrer do dia, usando o cotidiano como necessidade alienante, fui dar aulas na prefeitura sem perceber que a aflição me trouxera o disparate. Levei para meus alunos (que somavam 6 entre todos os alunos do Ensino Médio) o filme Sonhos do diretor Akira Kurosawa. Filme lento, dramático, mas que refletia parte daquele momento meu e de certa forma do mundo (ou versa-vice).
Em um dos sonhos Kurosawa mostra parte dos medos dos japoneses de algumas gerações atrás: o receio de um acidente nuclear. Sem contar que ele vivenciava suas feridas históricas ainda abertas, a história trágica do final da segunda guerra e suas conseqüências. No entanto, tenho a leve impressão de que a história foi sendo esquecida e hoje em dia pouco se lembrava de seu passado, e o que se lembrava era tratado com a mais cruel e necessária frigidez. Digo isso com base em nossa própria história que com alegria parece estar sendo esquecida por bundas “rebolantes” com a trilha sonora inicial do axé, na boquinha da garrafa, e finalizando ao som de funk (novamente romantizo o fim, mesmo imaginando que se trata do meio).
De modo breve, a história da modernização do Japão foi a de que no final do século XIX e início do XX seu modo de vida feudal, romanceado nas figuras do Samurai, passa a ter fim na Era Meiji – Iniciasse o moderno, não como período, mas como estilo de vida permeado pelo mundo das mercadorias e acordado com os países internacionais já capitalistas de corpo e alma –. Com a morte de Meiji em 1912, o país já estava em um caminho aparentemente sem volta. Entra em guerras com a China e outras nações buscando efetivar o seu sistema capitalista, por exemplo, extraindo parte das matérias primas necessárias para a suas indústrias, da região chinesa da Manchuria. Neste contexto de expansionismo, o Japão possuía um campo fértil para o discurso fascista, e assim foi com o imperador Hiroito. Na seqüência entra na segunda-guerra mundial, findada com o ataque dos EUA que soltaram 2  bombas atômicas, sobre Hiroshima e Nagazaki. Após esta guerra o Japão é ocupado pelos EUA e forçado a uma governança pró-estadunidenses, neste contexto e ao passar dos anos as figuras lendárias dos Samurais se tornam tão estranhas aos novos japoneses como a nós do ocidente.
Ao longo desta primeira metade do século XX, algumas tentativas de resgate da honra dos samurais ocorreram, é o caso da junshi (suicídio após a morte da liderança, como demonstração de fidelidade) do general e da esposa do Imperador Meiji, e também com os tão comentados kamikazes. Foi com esta mentalidade que o Japão buscou se recuperar da guerra mundial em que participou. Sacrifícios, orgulho e identidade talvez sejam as qualidades que foram necessárias para a produção toyotista, ou modo de produção flexível, que representam esse momento pós-guerra. O amalgama estava formado na segunda metade do século XX. Honra (de outrora) + Capital (de agora) = honra ao capital. Trágico.
Os sacrifícios parecem ter surtido efeito. Uma sociedade onde os mal sucedidos se matam, uma espécie de Darwinismo escroto; uma alegria comunicada via celular e adquirida na compra destes telefones e outros bagulhos tecnológicos, e; um país rico. Exagero um pouco neste parágrafo, isso porque ignoro parte dos jovens que se rebelam contra toda esta lógica, ilógica. Mas o que quero dizer é que a história foi distorcida, quando não esquecida. O medo de alguma merda nuclear, parece ter ficado no passado, e de um tsuname barrado nos paredões metálicos de alta tecnologia frente ao mar.
Fazendo um paralelo com um dos sonhos de Kurosawa, podemos observar que no filme a população se joga ao mar em um ato de escolha entre a morte lenta e sofrida causada pela radiação, e a rápida causada pela queda ao mar. Mas desta vez a realidade se fez mais dramática e com autoridade despótica não deixou escolha. O mar foi ao encontro das pessoas que sem escolha já não estão vivendo a falta de pão e o medo de uma catástrofe ainda maior.

terça-feira, 1 de março de 2011

Uauuu??? Fetiches.

Esta postagem é para explicar o sentido da palavra fetiche. Este meu desejo de expor qual o seu real sentido é fugir de uma possível caracterização sacana já que comentei em minha última publicação das profissionais do sexo e também apresento o blog comentando sobre os fetiches do dia-a-dia.
O sentido da expressão fetiche esta relacionado às ilusões que recriam novas ilusões sociais, ou melhor, “a noção de fetiche [presente em K. Marx] não deve expressar apenas uma forma de inconsciência. Apesar de não dispensar nas entrelinhas este aspecto fundamental, o sentido de ilusão deve levar a uma inconsciência específica, ou seja, a de revelar uma sociabilidade não contraditória de modo a permitir a permanência da contradição” (ALFREDO, Anselmo. s/d, p. 43).